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Artigo: Bioremediação : O Cogumelo Bombeiro

Bioremediação : O Cogumelo Bombeiro

Bioremediação : O Cogumelo Bombeiro

Há poucos meses, houve uma explosão de três barcos na Marina de Cascais e a Nãm estreou-se como ajudante na limpeza das águas. Como? Utilizando os sacos de fertilizante Nam para absorver e tratar o derrame de óleo deixado pelos barcos.

Parece de loucos, não é? Esta foi a experiência piloto da equipa Nam neste ramo da ciência, graças à nossa Carolina Gonçalves (mais conhecida por “Pimpim”) que uniu forças com a associação Movimento Claro.

Desta vez registámos o processo entrevistando a principal responsável por este dia em Cascais, a Pimpim. Aqui fica um excerto da entrevista:

M: Como soubeste que era possível limpar o derrame de óleo utilizando o fertilizante da Nam?

P: Eu vi isto num estudo que foi feito a seguir ao oil spill do Deepwater Horizon da BP, uma plataforma petrolífera que gerou um grande derrame no Golfo do México em 2010. No documentário do National Geographic, um dos grupos de estudo utilizou micélio de Pleurotus Ostreatus para degradar os hidrocarbonetos do petróleo e depois ainda nasciam Cogumelos! A este processo chama-se Bioremediação.

M: O que é a Bioremediação?
P: A Bioremediação consiste em usar organismos vivos em tratamento de ambiente contaminado para reduzir a concentração de poluentes a níveis não tóxicos.

Neste processo, o micélio do cogumelo ostra degrada a lignina que é a estrutura molecular da maioria das plantas/celulose e que é exactamente a mesma estrutura molecular dos hidrocarbonetos, sendo, por isso, natural que o micélio seja agente fundamental na degradação de hidrocarbonetos e capaz de converter a lignina em CO2 e água.

M: Foi um processo de “copy/paste”? Ou havia alguma possibilidade de isto falhar?
P: No documentário o processo foi feito em terra… colocaram uma grande lona por a envolver o petróleo e misturaram o micélio . Nós fizemos diferente e atirámos o nosso desperdício de produção rico em micélio para água (mar) de forma a operar como esponja e absorver os óleos tóxicos e para, posteriormente, ser feito em terra o processo  de degradação de hidrocarbonetos.

M: No documentário que viste, utilizavam micélio. Tu utilizaste  o fertilizante da Nãm (restos de produção), correto?
P: Sim! Mas o fertilizante da Nam tem ainda muito micélio ativo, portanto o princípio seria o mesmo, com  a variante da água salgada, e utilizámos apenas “desperdício” da produção de cogumelos.

M: Os cogumelos que nascem deste processo de bioremediação são cogumelos normais? Comestíveis?
P: São normais mas desaconselhamos a ingestão dos mesmos. Aparentam ser normais, iguais aos nossos aqui na Nam, mas são cogumelos que cresceram alimentando-se de hidrocarbonetos, logo não poderão ser consumidos por nós.

M: Então… estes cogumelos nascem apenas para separar o que é tóxico do que é natural e, assim, limpar o planeta?
P: Sim, exactamente!

M: São cogumelos bombeiros, portanto!
P: Exactamente! (Risos) 

M: Que outras associações conheces em Portugal que estejam empenhadas no uso e no estudo da bioremediação?

P: Bem, há várias! A que me é mais próxima é a escola Os Aprendizes em Cascais. Em parceria com a Universidade Lusófona,  os alunos do 10º ano estão a usar o nosso micélio para testar a sua eficácia em água salgada contaminada com hidrocarbonetos de forma a depois restaurar/limpar áreas contaminadas com poluentes. Têm feito tudo em laboratório, com vista em aplicar isto no mar.

M: Uau! São muito novos. Qual é o principal objetivo do estudo deles? Conseguem fazer tudo sozinhos?
P: Têm entre 15 e 16 anos, é incrível! O projeto avança sempre com a supervisão da Universidade Lusófona e da Professora de ciências dos Aprendizes. O principal responsável da Universidade por este ramo da ciência é o Professor Doutor Filipe Carvalho. Todas as etapas do processo passam por ele. O objetivo do estudo é perceber  se em água salgada o micélio consegue limpar/degradar os hidrocarbonetos e os seus derivados.

M: Se a experiência resultar, qual é a primeira medida a tomar?
P: Ainda não há nada definido… cada coisa a seu tempo! O ideal será fazer uma barreira de limpeza nas marinas com o nosso fertilizante.

M: Nesse caso, vamos aguardar pelos resultados. Obrigada pela tua disponibilidade!
P: Sim, eu estou bastante optimista. Obrigada eu!

🍄🍄🍄

Se tiverem interesse em conhecer mais a fundo as propriedades do micélio no que toca à degradação dos hidrocarbonetos, podem consultar os seguintes artigos:

Bioremediation of Crude Oil Polluted Soil by the White Rot Fungus, Pleurotus tuberregium (Fr.) Sing, by O. Isikhuemhen, G. Anoliefo and O. Oghale;

Bioremediation of soil contamined crude oil, by Agaricomycetes, M. Mohammadi-Sichani, M. Assadi, A. Farazmand, M. Kianirad, A. Ahadi and H. Ghahderijani;

Mushroom as a product and their role in mycoremediation, by S. Kulshreshtha;

Mycoremediation of hydrocarbon-contaminated brownfield sites using Pleurotus ostreatus, by L. Seaby;

Mycoremediation of petroleum contaminated soils: progress, prospects and perspectives, by U. Dickson, M. Coffey, R. Mortimer, M. Di Bonito, N. Ray;

Mycoremediation potential of Pleurotus species for heavy metals: a review, by M. Kahapi and S. Sachdeva;

Removal of emerging contaminants using spent mushroom compost, by Soochow University, Department of Microbiology

Outras sugestões Nam:

Documentário Deepwater Horizon BP; Documentário Fantastic Fungi - Netflix

Texto: Maria Luz

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